Publicado por: yogasampoorna | setembro 17, 2010

Casa da “Li Xian”- não deixem de ver

Desde que a nossa ajudante Li Xian entrou para trabalhar conosco, que eu dizia a ela que um dia iria visitá-la, e este dia chegou. Ela não queria, dizia que a minha casa era muito bonita, piaulian, no mandarim e que a dela era muito feia, que ela na verdade tinha vergonha. Eu disse a ela que não tinha problema, pois sempre tinha o costume de visitar a casa das minhas funcionárias. E então ela acabou concordando. Eu disse que queria conhecer o filho e o marido. As famílias aqui na China sempre tem um filho, no máximo dois.

Rosana e Li Xian no local onde ela mora.

E lá fui eu para a minha aventura. Queria saber como vivem as pessoas simples e pobres na China. Pegamos o filho dela na escola e realmente quando chegamos comecei a ver de perto o que já tinha visto numa pequena região antiga da cidade de Suszhou. Pobreza, muita pobreza, com um misto de sujeira, isto é uma parte da China.

Olha só que gracinha!!! Este é o filho da Li. Veja o uniforme das crianças aqui em Shanghai, todas usam um lencinho vermelho no pescoço.

   

 
 
Fui passando pelos pequenos becos e olhando tudo, registrando com a minha câmera alguns destes locais. O cheiro do lixo era horrível, as casas muito pequenas e quentes. Era cedo ainda e já preparavam o jantar, aqui na China ele almoçam e jantam cedo demais.  Assim que chegamos, meus olhos não acreditavam no que estava vendo. Um sobrado, grudado a muitos outros. Na porta da frente a cozinha, que vocês verão na foto não tinha muitos objetos. Apenas uma boca de fogão, um armário, e uma pequena mesa para três lugares, com três bancos. Fui olhando para aquilo tudo tão velho e tão sujo e me lembrei que iria comer por lá. Não vi pia, não havia, só um tanque grande, velho e sujo, do lado de fora. Fiquei imaginando como eu iria comer naquele lugar. Mas a alegria era tanta e tudo foi feito com tanto amor que esqueci da sujeira que havia.
 
 
   

Assim que passávamos a cozinha, havia uma porta, era um quarto da casa que a Li alugava para um casal com uma criancinha pequena. Se eu achei que a Li morava apertada, imaginem só num cômodo pequeno e apertado, dormirem três pessoas, comerem e viverem ali. Meu coração começou a ficar apertado vendo tamanha simplicidade e pobreza. Confesso a vocês que as pessoas podem ser felizes contudo que elas tem, pois a Li todos os dias mesmo morando a 45 minutos da minha casa e morando de uma forma tão simples, ela é muito alegre e divertida, nós duas juntas damos muitas risada.

No piso superior havia dois quartos, e assim que subiamos podiamos ver a escada que ligava a este local.  O quarto maior tinha uma escrivaninha onde seu filho estava fazendo a lição, uma cadeira tão desconfortável, um ventilador direto nele, devido ao calor. O forro do teto era de uma madeira bem fina, as paredes sujas, um pequeno guarda-roupas de duas portas, uma cômoda pequena, uma TV, em cima de um rack, uma cama de casal bastante estreita e a cama do filho. Aliás um detalhe importante para as camas. Não havia colchão como os nossos. Percebi que em todas as casas que visitei, as camas eram todas iguais. O colchão é feito de bambu, sim pasmem, inúmeras varetas de 2 centrimetros, lado a lado e por cima apenas uma esteira, como estas que se usam nas nossas praias. Havia uma sacada, também de onde aproveitei para tirar algumas fotos e me comuniquei com as crianças vizinhas. No outro quarto que era menor, uma outra escrivaninha com o computador, uma cadeira, um microondas, uma pequena geladeira e várias cordas no chão, que estão guardadas ali para o trabalho do marido. Segundo o que ela me disse, o trabalho dele é de limpar fachada de edifícios.

Ela estava radiante de felicidade e eu também. Ela mal podia imaginar o prazer de estar passando aquelas horas com ela, e tendo a chance de vivenciar um aprendizado muito grande para minha vida. Enquanto o marido dela terminava o jantar, pois aqui na China muitos homens cozinham, uma porção de gente da vizinhança foi aparecendo. Estavam curiosos para me conhecer. Depois do jantar fomos andar um pouco pelas casas vizinhas e eu aproveitei para tirar algumas fotos. O povo chinês é muito divertido e sorridente. É disso que eu gosto. Apesar de falar poucas palavras em mandarim, a Li serve de intérprete para as pessoas. Criamos uma forma de nos comunicarmos tão grande nestes 5 meses e meio que nos entendemos perfeitamente. Descubro tanta coisa da Li, que meus filhos e marido ficam me perguntando como é que eu descubro tanta coisa se não falamos a mesma língua. Pois é, usamos uma outra linguagem essencial ao nosso convívio amoroso.

Ela ficou muito, mais muito feliz, e eu agradecida por ela ter me recebido tão amorosamente e ter me proporcionado momentos de pura reflexão. O jantar estava delicioso. O cardápio que foi servido, foi este: Macarrão, que é o noddles, um tofu fatiado, parecido com uma salsicha, misturado a cenoura crua e coentro, uma couve diferente da nossa brasileira, misturado a cogumelos, pepino cru em rodelas e tomate. Tudo foi feito com muito amor. A Li enchia minha cumbuca com comida e eu estava por demais satisfeita.

 

Tomei muito chá, mal meu copo terminava de esvaziar e lá de novo ela enchia com água quente. Acho que tomei uns cinco copos de chá, e então depois de tudo adivinhem o que aconteceu? Vontade de fazer xixi. Mas a Li me disse que o banheiro estava fechado. Fechava às 6 da tarde. Os banheiros são comunitários. E agora o que fazer? Dentro das casas não existe banheiro, imaginem vocês, todo o conforto que temos em nossas casas e não prestamos atenção nas coisas mínimas. Não havia banheiro, ou tesuo como eles chamam e então me restava usar um penico bem diferente que vocês verão nas fotos abaixo. Então eu percebi porque muitas pessoas na China cheiram mal. Além de ter que pagar para ir ao banheiro elas não podem ir na hora que querem. O jeito é usar o famoso penico. Olhem abaixo.

 

Foi um grande aprendizado. Quando cheguei em casa, parecia que estava em outro mundo, tão diferente daquele. Mas agradeci e agradeci demais a todo tempo, antes de dormir e também no dia seguinte. Na verdade temos muito, mais muito mesmo e não imaginamos que muita gente passa por privação. Me veio a idéia da simplicidade, e que não necessitamos muito para sermos felizes. Isto é, o que a Li Xian, minha ajudante dos serviços aqui da nossa casa tem me ensinado. Espero que vocês também reflitam e agradeçam por tudo o que vocês tem, mas por tudo mesmo, que nem imaginam que para outros está faltando. Namastê! 


Respostas

  1. Rosana, mas que aventura! Sabe que nestes dias tenho pensado muito nisso, sobretudo em conversa com meus filhos – vivemos com tanta fartura e comodidade que isso acaba sendo normal, até banalizado.
    Precisamos MESMO agradecer por tudo o que temos, e se por qualquer motivo não tivermos mais, é preciso manter a alegria e o amor que está dentro de nós!

    UM BEIJO, MUITA ALEGRIA E SUCESSO PARA VOCÊS TODOS (INCLUSIVE PARA A LI!

    • Débora, a vida nos mostra cada coisa interessante para nosso aprendizado. Realmente para aquele quer aprender as lições elas estão ali. Sou realmente grata a tudo que o Universo tem me dado, todas as experiências são válidas para a nossa Evolução. Gratidão é uma palavra chave. Beijos. Namastê! Rosana

  2. Minha amiga, mais uma vez você conseguiu fazer com que eu tivesse a sensação de estar aí…acho que senti até o cheirinho da comida – sem contar que fiquei literalmente com água na boca!!!
    Sempre agradeci por tudo que tenho, principalmente a amizade de vocês, mas é sempre bom ampliar os horizontes para sempre agradecer mais e mais…
    Bjs carinhosos.
    🙂
    Namastê!
    Solange

    • Sô, apesar da simplicidade, com uma dose de sujeira, eu vejo minha ajudante Li Xian todos os dias sorridentes, isto é um grande aprendizado para nós. Nunca ela reclama de dor, nem faz cara feia. Sei que trabalha longe, passa por dificuldades, mas sempre está sorridente. Realmente agradeça mas não a mim, mas ao Universo por ser tão generoso e sempre estar nos dando algo de bom, a vida já é uma dádiva, não se esqueça!!! Obrigada por seus comentários sempre tão amorosos e gentis. Bjs. Namastê! Rosana


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